O fim do improviso na gestão familiar

Por: Rodrigo Bertozzi – CEO

Em algum momento uma empresa familiar acaba por sofrer um choque tão grande que a obriga a refazer todo o modelo estratégico que adota. Pode ser o falecimento do fundador que cai como bola de ferro a esmagar a condução dos negócios. Ninguém está imune a isso. Seja por ficar atrasado tecnologicamente em relação à concorrência – e assim perder no preço e negociação -, brigas societárias, pressão do mercado, ou a simples gestão familiar que não aceita opiniões contrárias ou a profissionalização do negócio. Lembro que o improviso na gestão é um vírus mortal que se espalha silenciosamente pela empresa, pronto para avariar seu hospedeiro no médio e longo prazo.

ɐ fundamental esclarecer, no entanto, que profissionalizar a gestão por meio de executivos, reestruturar as operações e contratar uma consultoria não significa jamais a perda de poder, mas sim uma atitude corajosa de não aceitar mais o improviso, a forma burocrática e centralizadora de gerir o negócio. Acabe com o senso comum de que um sócio fundador é suficiente para tocar todo o negócio – cliente, vendas, produção, insumos, tecnologia e marketing. E faça uma análise de casos semelhantes ao seu que já fizeram a mudança.

O mercado mudou, e muda tão rapidamente quanto um piscar de olhos, provocando uma nova postura na gestão das empresas. O problema é que as médias empresas familiares, às vezes por conflitos internos, demoram a responder a um novo modelo de negócios e isto custa caro. A perda de mercado é um dos principais sintomas desta dura realidade de competição global.

Alinhe e amadureça as questões societárias para revitalizar a empresa pelos próximos 50 anos, garantindo assim a sustentabilidade de longo prazo. As empresas foram feitas para durar séculos, desde que adotando uma gestão profissional e uma linha sucessória baseada na meritocracia de resultados.

É preciso eliminar a liderança paternalista e implantar um plano de carreira para os familiares, em igual condição com funcionários de carreira ou executivos vindos do mercado. Chega de garotos assumirem os negócios porque são da família. Sem a competição saudável eles podem se tornar teimosos, acomodados, sem interesse por novidades; ou ainda, outros familiares que chegam ao poder querer implantar tantas modificações que podem destruir o bem mais significativo de uma organização: o seu DNA!

Em relação a funcionários de carreira ou executivos, elimine os pessimistas, aqueles que não acreditam no negócio mas estão presentes apenas para ganhar dinheiro ou obter vantagens. Não permita que se infiltrem na alta direção e, ao perceber este perfil, retire-os. Dê todas as chances possíveis para que uma adaptação possa ser feita, mas se não houver resultado, demita os resistentes! Não servem para a empresa. Novos (e velhos) talentos devem encontrar espaço e estímulo para serem capacitados a pensar como líderes e, principalmente, a assumirem suas responsabilidades como profissionais de ponta. Eles sim deverão ser o futuro da empresa.

Há duas décadas a reinvenção de produtos e serviços podia levar três anos que ninguém (nem o mercado) se importava. Atualmente temos que lançar novos projetos a cada seis meses. O mundo da tecnologia provocou isso e contaminou todas as empresas. Criar e vender produtos e ter um marketing inovador é o mínimo. Lembrem-se que a competição é global.

A era do improviso terminou. A reinvenção da gestão percorre uma trilha interminável de descobertas e justamente desta mistura (antigo e o novo) ressurgirá a empresa, com capacidade de competir sob qualquer condição, um organismo empresarial sustentável e imbatível. A única forma de prever o futuro é criá-lo e recriá-lo, sempre. Eis o seu, o meu, o nosso desafio em um mundo tão novo quanto estranho.